sábado, 18 de dezembro de 2010

a superfície
o senso comum
o mainstream
o visível
o aparente
o plano
o raso
o liso
o macio
o pastoso
o famoso
o doce
o bonito
o repetitivo
o reconhecível
o previsível
o assimilável
o confirmado
o comum
o normal

a profundidade
o bom senso
a minoria
o escondido
o disfarçado
o inclinado
o fundo
o duro
o desconhecido
o amargo
o feio
o irrepetível
o surpreendente
o imprevisível
o indigesto
o ausente
o incomum
o anormal

domingo, 7 de novembro de 2010

Alteração

"Uma vez, o outro me disse, falando de nós: "uma relação de qualidade"; essa palavra desgostou-me: vinha bruscamente de fora, banalizando a especialidade da relação sob uma fórmula conformista. Muitas vezes, é pela linguagem que o outro se altera; ele diz uma palavra diferente, e eu ouço rumorejar de modo ameaçador todo um outro mundo, que é o mundo do outro."

"O discurso amoroso, ordinariamente, é um manto liso que adere à Imagem, uma luva extremamente macia que envolve o ser amado. É um discurso devoto, bem comportado. Quando a Imagem se altera, o manto de devoção se rasga; um abalo derruba minha própria linguagem."

"O horror de estragar é ainda mais forte que a angústia de perder."

Roland Barthes - Fragmentos de um discurso amoroso

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A gota d'água

Já lhe dei meu corpo
Minha alegria
Já estanquei meu sangue
Quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Olha a gota que falta
Pro desfecho da festa
Por favor...
Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água...

terça-feira, 10 de agosto de 2010

No meio do caminho havia uma pedra

Ontem eu vi um homem caído na calçada. Bem no meio da calçada, bem no meio da esquina. Caído com a cabeça escorada numa sacola cheia de trapos, com as pernas dobradas tão esquisitamente que pareciam quebradas. O rosto para baixo, um chapéu caído para o lado, as mão encardidas.

Um grupo de pessoas crescia em torno dele. "Oh, o que terá acontecido?" "Pobre alma, alguém chame alguém para fazer algo." E moviam seus celulares de dentro de bolsos e bolsas. E o homem imóvel.

Do outro lado da rua, tinha outro homem caído. Debaixo da marquise de uma loja fechada. Não tinha ninguém à sua volta. As pessoas passavam indo fazer aquilo que tinham para fazer de suas vidas. Ninguém moveu o celular do bolso ou da bolsa. Ninguém chamou ninguém.

Por que eram diferentes um do outro? Ah, sim. O segundo deles não estava no meio do caminho.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.



Pablo Neruda

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pedra, papel ou tesoura


Somos pedra, papel ou tesoura.

A pedra, tipo tão feliz, não se incomoda, não se abala. Passa pela vida de maneira prática, rolando. Não se detém em detalhes, emoções baratas, não se envolve em tramas, ardis. A pedra não perde o sono, não chora olhando a novela, não perde a concentração nos estudos por que viu um twitt qualquer e o tomou pra si. As pedras gostam de construir máquinas, prédios, pontes. Não gastam dinheiro consigo, porque não são dadas a prazeres mundanos.
Mas a pedra, quando ama, ama rígido, e seu amor é o mais inquebrável de todos, a pedra ama pra toda a vida.

E não há tipo melhor para envolver essa carcaça dura do que um papel. O papel é mole, frágil. Sentimental. Envolve a pedra com a doçura das palavras, com a delicadeza dos trejeitos. O papel é fino, elegante, quando acuado, se rasga ou se amassa. Às vezes, se amassa tanto tanto que quase vira uma pedra. E o que nele for escrito, escrito está. Não se apaga. O problema é quando ele encontra uma tesoura.

A tesoura, o mais ambíguo dos seres. Arrasa um papel, mas nada pode contra uma pedra. Vive entre a alegria extrema, a paranóia e a depressão. Quando afiada, é poderosa, imprescindível. Todos precisam dela e quando não a encontram, é impossível substituí-la por outra coisa. Cortar - pessoas, conversas, ideologias - é sua maior diversão. Mas quando perde o fio, só lhe resta furar. Porque não suporta perder sua valia, ficar esquecida no fundo de uma gaveta. Não, a tesoura sempre vai estar à mão de alguém que já perdeu o fio e o brio, pronta para desferir a última estocada.

E então? O quanto de cada tu és?

terça-feira, 18 de maio de 2010

O segredo dos teus olhos

Difícil luta entre razão e emoção,
que me faz te querer só pra mim,
todos os dias,
tuas mãos quentes,
teu abraço ao acordar.

Difícil saber teus sentimentos
e ter que dormir só com a ideia.

Difícil me despedir
e não saber quando voltas.

Difícil sentir teu cheiro na minha cama
e apenas torcer para que me apareças em sonho.

Difícil saber que poderia ser diferente.

Mas sei o quanto seria muito mais difícil
se tu realmente fosses só meu.

Tenho medo de mim.

Aos demônios da minha vida

Limpei meu coração.
Lavei minha alma.
Exorcizei os monstros.
Tudo ficou claro e leve.
Não guardo rancor.
Não guardo amor.
Estou livre.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Dois anos.



And we cover our lies with handshakes and smiles
And we try to remember our alibis
We tell lies to our parents, we hide in their rooms
We bury our secrets in the garden
Of course we could never make this love last
I said of course we could never make this love last
The only love we know is love for ourselves
We bury our secrets in the garden

sábado, 13 de março de 2010

end of the night

a mágica do perfeito despertar
um lugar secreto, onde tudo é paz
o cheiro certo que me deliram os sentidos
um jardim de flores e letras
um tanto de inocência, um tanto de canalhice
o chico cantando na sala
quisera eu poder acordar sempre assim..
com o menino vermelho.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Bluffin' with my muffin


"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado, que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida. (...)então eu não sentia nada, podia fazer as coisas mais audaciosas sem sentir nada, bastava estar atenta como estes gerânios, você acha que um gerânio sente alguma coisa? quero dizer, um gerânio está sempre tão ocupado em ser um gerânio e deve ter tanta certeza de ser um gerânio que não lhe sobra tempo para nenhuma outra dúvida..."

Caio Fernando Abreu

Desculpa, amor, se te decepcionei. Desculpa se burlei as regras do jogo, mas tu não as deixou claras. Desculpa se não leio mentes e se não tenho um botão on/off para os sentimentos. Agora que entendi o jogo, talvez não consiga continuar jogando, não gosto de ficar esperarando a hora de tu querer jogar. Fui má jogadora e sou má perdedora. Não gosto de perder, por isso acabo blefando antes da hora. Azar o meu. Vou procurar outra brincadeira mais interessante.

domingo, 24 de janeiro de 2010

A festa estava boa?

Sim, estava ótima. Não tinha conhecidos, mas fui com três amigos, conversamos, bebemos e dançamos. A música não era lá grande coisa, mas ficamos muito bêbados e dançamos muito, até aquilo que não dançaríamos normalmente! Hahahaha! Beijei umas quatro pessoas, e no final fiquei com uma garota linda! Adorei!

Mais ou menos. A música estava ruim e as pessoas eram meio estranhas, mas a gente estava num clima legal. Eu não fiquei com ninguém, mais dancei horrores! No meio da festa a gente estava tão bêbado que dançamos umas músicas horríveis, mas foi engraçado.

Estava péssima. Ninguém de conhecido, uma música horrível e eu fiquei sozinha, porque minha "amiga" me deixou sozinha a festa inteira e passou noite agarrando todo mundo. E o pior foi todo mundo bêbado se encoxando e dançando aquelas músicas horríveis! Nunca mais vou nesse lugar!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

I will leave before you wake ou O dia seguinte





Drink up, baby
Stay up all night
Things you could do
You won't but you might
(Elliot Smith/Madeleine Peyroux - Between the bars)


O que fazer no dia seguinte? Acordar. A cabeça tal uma bigorna, daquelas de desenho do Papa Léguas. Está ali, um corpo ao lado, quente, às vezes roncando. Às vezes em casa, às vezes em outro lugar. O que fazer agora? Por que,  há apenas três ou quatro horas atrás, era tão fácil? As palavras vinham, os risos. A bebida? É isso. A bebida. Mas o que fazer agora? Como lidar? Aquela pessoa ali.. é meu amigo, eu gostei.. queria ficar mais um pouco.. por favor, faça algo, me abrace ao acordar.. eu não sei o que fazer.. me livre dessa responsabilidade. Se você me abraçar vou ficar confortável e não vou ter que decidir o que fazer.
Mas dorme. Vou dormir também. Não consigo. Então levanto e vou embora.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O ano novo

Não substituo pessoas.
Não invento amigos.
Não preencho os buracos esvaziados.

Os quartos desocupados pelas almas incertas
continuarão vazios servindo de casa às aranhas.

Construo então outros quartos e anexos e salas secretas
para os novos hóspedes ou moradores.

E o ano muda e o tempo passa enferrujando ainda mais as fechaduras.